terça-feira, 28 de junho de 2011

Capítulo 18 - Eu sabia que ia acabar por encontrar um defeito em ti

Acordei cedo mas permaneci na cama à espera que o meu despertador tocasse. Estava ansiosa pelo meu primeiro dia de aulas e também não via a hora de estar com o David. Quando finalmente ouvi o som irritante do meu despertador, despachei-me a desligá-lo, levantei-me da cama e fui tomar um banho rápido. Quando saí, era hora de escolher uma roupa e eu não sabia bem o que vestir. Fiquei alguns instantes a olhar para todas as minhas roupas e nada parecia-me ser a ideal para usar. A Daniela entrou disparada para dentro do meu quarto. Para aquela miúda devia de ser pecado bater à porta.
- Bom dia alegria! - cumprimentou-me alegremente.
- Bom dia. Não te vais vestir? - perguntei reparando que ela ainda estava de pijama.
- Daqui a pouco. Só vou ter aula ao segundo tempo. - informou-me sorrindo - E tu ainda tas enrolada na toalha?
- Não sei o que vestir. - disse olhando novamente para o meu guarda-roupas.
- Eu ajudo-te. - agradeci-lhe com um pequeno sorriso.
Não demorou muito até a Daniela encontrar uma roupa. Aceitei a sugestão dela e enquanto eu me vestia, ela saiu para preparar o nosso pequeno almoço. Acabei de me vestir, pus uma maquilhagem leve e dei um jeito ao meu cabelo, deixando-o levemente ondulado. Olhei-me ao espelho e constatei que estava pronta. Peguei na minha mala, pus lá tudo o que precisava para o dia de hoje e saí do meu quarto. Pousei a minha mala no sofá da sala e em seguida fui para a cozinha onde a Daniela já estava a comer.
- Bem, nem sei o que seria da tua vida sem comida... - disse a meter-me com ela.
- Não sabes?! Eu digo-te: nada, meu amor, absolutamente nada. - disse de uma maneira engraçada que eu não resisti e ri.
- És mesmo parvinha. - disse sentando-me ao lado dela.
- Então estás nervosa? - perguntou fixando os seu grandes olhos em mim.
- Um bocado... Não sei o que me espera. - disse dando um gole no meu sumo de laranja.
- Oh vai correr tudo bem. - tranquilizou-me sorrindo.
- Espero bem que sim. - disse enquanto acabava de beber o meu sumo - Agora eu vou andando que não quero chegar atrasada. - levantei-me da mesa.
- Não vais comer nada? - perguntou-me com uma expressão confusa.
- Neste momento não consigo comer nada. - sorri - Bem, xauzinho. - despedi-me e dei-lhe um beijo no topo da cabeça e saí apressadamente da cozinha.
- Boa sorte! - ouvi-a a desejar-me num tom de voz mais elevado.
- Obrigada. - agradeci no mesmo tom de voz.
Agarrei na minha mala em cima do sofá e nas chaves do carro que estavam em cima da mesinha do hall de entrada e saí de casa.
Fui até ao meu carro, liguei-o e começei a conduzir calmamente até à faculdade. Durante o caminho veio-me várias perguntas à cabeça, tais como: Como seria o pessoal de lá? Como seriam os professores? Será que eu iria gostar? Tentei não pensar muito nessas coisas e não demorou muito até eu chegar. Estacionei o carro e saí. Comecei a reparar nos pequenos detalhes da faculdade, pois só tinha cá estado duas vezes para tratar da matricula e da transferência. Era uma escola bonita, sofisticada, talvez precisasse de uma pintura, mas nada muito importante. Reparei também nas pessoas que se encontravam do lado de fora da faculdade: algumas conversavam alegremente, outras acabavam de chegar e cumprimentavam-se entre si. Reparei também que havia alguns casais apaixonados a trocarem beijos e entre isso tudo havia pessoas como eu, completamente fora do seu ambiente, sem conhecer absolutamente ninguém. Respirei fundo e entrei. Agarrei no papelinho com o meu horário, que me tinham dado quando vim matricular-me, e vi qual seria a aula que iria ter e em qual sala seria. Dei algumas pequenas voltas pela faculdade para ver se encontrava a sala, mas não encontrei. Por isso perguntei a uma funcionária e ela indicou-me o caminho. Segui a suas indicações e finalmente encontrei a minha sala. Quando entrei, encontrei algumas pessoas a conversar e outras apenas sentadas à espera que tocasse. Avistei uma mesa vazia ao fundo e dirigi-me até ela, pois nunca gostei de ficar à frente. Pousei a minha mala em cima da mesa e sentei-me. Não demorou muito até uma rapariga de cabelo castanho claro e olhos cor de mel, que aparentava ter mais ou menos a minha idade, dirigir-se para ao pé de mim, com um bonito sorriso no rosto.
- Posso sentar-me?
- Claro, estás a vontade. - sorri educadamente.
Ela retribuiu-me o sorriso e sentou-se.
- Olá, sou a Inês, muito prazer. - auto-apresentou-se esticando-me uma das mãos.
- Bia, o prazer é meu. - apertei-lhe a mão delicadamente.
Gostei da maneira como a Inês falou comigo, simples e espontânea. Conversámos animadamente durante o pouco tempo que restava até dar o toque. Inês pareceu-me bastante simpática.
Tocou e entrou na sala um professor que aparentava ter os seus trinta e poucos anos. Ele falou sobre o curso e sobre a sua disciplina. Achei-o bastante simpático, pareceu-me ser divertido mas competente. A aula passou rapidamente e eu passei o intervalo a falar com a Inês. Ela era mesmo simpática e carismática. Tinha um jeito um pouco maluco e diferente de mim e tinha o seu futuro bem planeado. Tivemos mais duas aulas e os professores eram mais velhos que o primeiro, mas também eram simpáticos e pareceram-me bastante rigorosos.
 Saí da sala juntamente com a Inês.Finalmente chegou a hora do almoço e ainda bem, pois eu já estava cheia de fome.
- Inês, queres ir almoçar comigo? - convidei-a.
- Bora, e onde é que vamos?
- Não faço a minima
- Ouvi dizer que ao virar da esquina há um restaurante óptimo onde o pessoal da faculdade costuma ir.
- Então vamos até lá. - disse animadamente.
Seguimos a pé até ao restaurante pois era perto. Chegámos e escolhemos uma mesa vaga e sentamos. Fiquei de frente para ela. Não demorou muito até um empregado vir nos atender. Fizemos os nossos pedidos e aguardamos que o empregado os trouxesse. Quando  trouxe começámos a comer entre muita conversa e gargalhadas. A Inês pareceu-me muito animada.
- Aquele gajo a mesmo lindo! - comentou olhando para televisão e eu, como estava de costas para a mesma, virei-me e vi a passar na televisão uma imagem do David.
- Sim, é giro... - concordei tentando não dar muita importância.
- É giro? Fogo, ele é perfeito todos os dias. Só é pena ser jogador do Benfica. - disse torcendo o nariz.
- E qual é o mal de ser jogador do Benfica? Não me digas digas que és portista? - inquiri olhando seriamente para ela.
- Não querida, sou largata com muito gosto. - disse orgulhosa.
- Ah eu sabia que ia acabar por encontrar um defeito em ti. - brinquei balançando a cabeça negativamente.
Ela atirou-me com um guardanapo e eu ri-me. Continuámos o nosso almoço animadamente. De seguida, era hora de voltar novamente para a faculdade pois ainda nos faltava ter mais duas aulas. Estava a adorar o meu primeiro dia de aulas, estava adorar a faculdade e estava adorar conhecer a Inês, mas não via a hora de estar com o David e parecia que quanto mais eu queria isso mais lentamente as horas passavam. Quando finalmente acabou a última aula, já passava pouco mais da cinco horas. Despedi-me da Inês e fui para  meu carro. Conduzi calmamente até casa, e quando cheguei esperei que a Daniela chegasse e não demorou muito para que isso acontecesse.
- Olá feia. - cumprimentei-a dando-lhe um leve beijo no rosto.
- Olá gorda. Como foi o teu primeiro dia de escolinha?
- Foi muito bom. - sorri.
- Vês? Eu disse... E tu ainda estavas nervosa. Parecias aquelas criancinhas que vão à escola pela primeira vez na vida e estão com medo de ficar lá sem as mamãs. - gozou rindo-se.
- Ah, cala-te estúpida ! - atirei-lhe com uma almofada.
Continuámos a falar e entre brincadeiras e picadarias. Acabei por lhe contar como foi o meu dia. Passado algum tempo ouvi o meu telemóvel a tocar, por isso despachei-me a ir ver quem era e era uma SMS do David.

Já cheguei, estou te esperando.
Beijo

Olhei para o o visor do telemóvel e sorri ao ver que eram exactamente sete horas.
- Sempre pontual. - murmurei com um sorriso parvo na cara.
- Disseste alguma coisa? - perguntou-me a Daniela.
- Não... Nada. - disse um pouco atrapalhada. - Vou sair. - informei-a agarrando na minha mala.
- Onde vais?
- Vou dar uma volta com aquela minha amiga que te disse que conheci hoje. - menti - Não esperes por mim para jantar, devo demorar um pouco. - informei e saí rapidamente de casa para que ela não me fizesse mais perguntas.
Desci as escadas e quando saí do prédio avistei o David, encostado ao seu carro, lindo como sempre e com o seu sorriso de menino na cara. Aproximei-me dele.
- Olá... - cumprimentei-o sorrindo timidamente.
- Oi. - aproximou-se e deu-me um leve beijo no rosto que me fez estremecer, e acho que ele percebeu.
- Então... Vamos? - perguntei um pouco atrapalhada.
O David sorriu e acompanhou-me até à porta do pendura e abriu-ma. Entrei e agradeci-lhe. Ele fechou a porta e dirigiu-se de seguida para a porta do condutor abrindo-a e entrando rapidamente. Não demorou muito até o David começar a conduzir até a discoteca onde iríamos pedir uma lista de DJ's e ver se encontrávamos algum de jeito. Durante o caminho fomos a falar sobre coisas normais. O David contou-me como o Rúben anda a gastar toda a sua energia a tratar da festa... Ele estava mesmo com intenções de impressionar a Daniela. Não demorámos muito a chegar. O David, como sempre, foi um cavalheiro e abriu-me a porta. Dirigimo-nos em direcção à discoteca que estava fechada, mas já se encontrava um segurança à porta, por isso o David explicou-lhe o motivo de estarmos ali e ele não teve problemas em deixar-nos entrar. Entrámos e algo me dizia que aquilo não iria ficar só por ali.

sábado, 18 de junho de 2011

Capitulo 17 - A senhora é que manda!

Acordei cedo e sem a mínima vontade de ficar na cama. Levantei-me e fui até à casa de banho tomar um longo e relaxante banho. A verdade é que não queria que a minha cabeça fosse invadida por pensamentos confusos, com o nome "David Luiz". Não percebo o que se anda a passar comigo... Eu mal o conheço e ele não sai da minha cabeça. Saí da banheira e enrolei-me numa toalha e dirigi-me para o meu quarto. Passei um creme hidratante pelo meu corpo e escolhi uma roupa simples e fresca. Sequei ligeiramente os meus cabelos e depois prendi-os num "rabo de cavalo" alto. Calcei uns chinelos e dirigi-me até à cozinha para comer qualquer coisa. Fiz algumas torradas, enchi um copo com leite e dirigi-me para a sala, para tomar o meu pequeno almoço. Liguei a televisão na MTV e comecei a comer.
Quando acabei, levei a loiça para a cozinha e lavei-a mesmo à mão, pois era pouca. Voltei para a sala e deitei-me confortavelmente no sofá. Fechei os olhos e veio-me novamente à cabeça o David. Lembrei-me de todos os momentos que eu tive com ele, foram poucos mas foram fantásticos. Lembrei-me daquele sorriso de menino que só ele tinha e que me deixava completamente deliciada. Lembrei-me daqueles caracóis perfeitos e daqueles olhinhos lindos. Lembrei-me do nosso beijo. Na verdade eu não consigo esquecer aquele beijo. Não sei exactamente quanto tempo fiquei perdida em pensamentos, mas só saí daquele transe quando ouvi a voz da Daniela. Abri os olhos e levantei-me do sofá, ficando de frente para ela.
- Ai a minha cabeça. - queixou-se com a mão na mesma.
- Bom dia! - cumprimentei-a, achando graça à figura dela.
- Fala baixo miúda. Não vês que eu estou a morrer?!
- Bebesses menos! - afirmei rindo.
- Eu não bebi assim tanto ... - disse com uma voz baixa.
- Não, não. - ironizei - Até pediste ao David para te ensinar a sambar. - disse a rir-me.
- A sério?! Sou tão estupida. - martirizou-se e eu ri-me. - Mas eu fiz muitas figuras?
- Só fizeste figuras! - disse soltando uma gargalhada.
- Que vergonha... Mas sabes com'é que eu fico quando bebo demais. - disse baixo e eu não resistir e ri - Ai a minha cabeça, vai explodir... - queixou-se novamente.
- Da próxima vez bebes menos! E vai lá tomar um banho quentinho, que eu vou fazer-te o pequeno almoço e vou arranjar-te um comprimido para ver se essa dor de cabeça passa. - sorri.
- Ok, obrigada. És uma querida! - disse com um leve sorriso.
- Eu sei, o que seria de ti sem mim... - gabei-me e ela riu-se levemente e foi tomar o seu banho e eu fui até a cozinha prepara-lhe o pequeno almoço.
Eu e a Daniela sempre fomos bastante brincalhonas uma com a outra mas sempre preocupadas. Nós conhecemo-nos desde pequeninas e sempre fomos mais que amigas. Ela é aquela irmã que eu nunca tive mas que sempre sonhei ter, e apesar dela ser mais velha, eu sempre tento protegê-la e cuidar dela. Ela às vezes é um pouco maluca, mas uma das melhores pessoas que eu conheço. Eu fazia de tudo para a ver feliz, porque ela merece. Mas eu queria mesmo é que ela admitisse o que sente pelo Rúben. Eles gostam um do outro e isso toda a gente já percebeu, e talvez na festa surpresa que o Rúben está-lhe a preparar, seria mais fácil de admitirem.
Preparei-lhe uma sandes e fiz-lhe um sumo de laranja. Peguei numa aspirina e não demorou muito até ela chegar à cozinha, com os cabelos molhados.
- Não vais secar o cabelo? - perguntei a sorrir.
- Não, o barulho do secador só vai piorar a minha dor de cabeça. - disse com um ar sério e eu ri-me.
- Então vá come, e toma esse comprimido. - dei-lhe o remédio para a mão.
- Obrigada. - sorriu. - Então estás preparada para o primeiro dia de aulas na faculdade amanhã? - perguntou e logo de seguida deu um gole no sumo que lhe preparei.
- Acho que sim. Estou é um pouco ansiosa.
- Oh, vais ver que vais adorar. - afirmou sorrindo.
- Pois, espero que sim...
- E ontem falaste com o David? - perguntou-me curiosa.
- Eu não tenho nada para falar com o David. - disse um pouco irritada.
- Bia, vocês beijaram-se, é claro que têm que falar.
- Não temos nada... - entretanto ouvi o toque do telemóvel dela. - E vai lá atender o teu telemóvel. - ordenei-lhe um pouco impaciente.
 Agradeci mentalmente a Deus pelo telemóvel dela estar a tocar naquele o momento, pois não queria nada ter aquela conversa com ela. Ela levantou-se rapidamente e foi até ao seu quarto, e ouvi-a a atender o telemóvel. Dirigi-me para a sala e sentei-me no sofá e pouco tempo depois ela chegou, ainda a falar ao telemóvel, com um sorrisinho parvo no rosto. Pelo que eu percebi ela estava a falar com o Rúben. A Daniela ficou algum tempo a falar, mas eu não estava a prestar muita atenção na conversa. Estava mais atenta no que estava a dar na televisão. Depois dela desligar, estava com um grande sorriso nos lábios.
- Quem era? - perguntei curiosa.
- Era o Rúben. - disse tentando mostrar indiferença, mas não conseguiu.
- E o que ele queria?
- Saber se eu estava bem... - respondeu com um sorriso parvo no rosto.
- Oh que fofo... 'tava preocupadinho. - gozei forçando uma voz melosa.
- Ah cala-te! - atirou-me com uma almofada.
- Olha aí. - reclamei e ela soltou uma gargalhada.
Ficámos na sala a falar e a resmungar uma com a outra. A Daniela é muito engraçada e quando está de ressaca consegue ser mais ainda. O tempo passou a correr e quando demos por nós já eram 14:00 horas e nós ainda não tínhamos almoçado, e para variar estávamos a morrer de fome. Resolvemos pedir uma pizza, pois era mais rápido e nenhuma de nós queria cozinhar.
- Ó feia, não queres ver um filme? - perguntou enquanto limpava a boca num guardanapo.
- Qual? - questionei, mas já fazia uma pequena ideia de qual filme ela iria escolher.
- Marley e eu. - respondeu com um grande sorriso, pois ela adora mesmo o filme.
- Não te cansas de ver esse filme?! - disse a rir-me.
- Não! - respondeu convicta - Vou pôr. - sorriu e dirigiu-se para o móvel onde ficavam os DVD's.
Eu levantei-me do sofá, agarrei na caixa da pizza, já vazia, e nos copos e levei para cozinha. Pus a caixa no lixo e enquanto lavava rapidamente a loiça, ouvi a Daniela gritar.
- Anda logo, já começou!
Ri-me e acabei de lavar a pouca loiça que havia, e dirigi-me novamente para a sala.
- Tu és mesmo parva! - acabei por dizer, pois a Daniela conseguia fazer tudo de uma maneira engraçada.
- Vá, senta-te rápido - pediu impaciente.
Sentei-me e ela deitou-se com a cabeça no meu colo.
- Esse cão é tão fofo. - disse-me com um sorriso babado.
Ri-me e enquanto víamos o filme fazia-lhe um carinho na cabeça, e pouco tempo depois a Daniela acabou por adormecer. Eu continuei a ver o filme mas fui interrompida pelo som do meu telemóvel a tocar. Levantei-me calmamente para não acordar a Daniela, pus-lhe uma almofada por baixo da cabeça dele, e despachei-me a ir atender. Ainda bem que a Daniela tem um sono pesado, senão já tinha acordado e começado a atrofiar. Vi no visor do telemóvel um numero que não conhecia, e atendi finalmente.
- Estou? Quem fala?
- Olá Bia, sou eu, o Rúben.
- Olá Rúben! - cumprimentei-o a sorrir e lembrei-me que ele tinha dito que iria pedir ao David o meu número para podemos tratar dos premonores da festa surpresa da Daniela.
- Então tudo bem? - perguntou-me educadamente.
- Sim e contigo?
- Também. Olha, podes vir aqui a casa para bebemos um café e tratarmos de algumas coisa para a festa da Dani? É que só temos uma semana e há muita coisa para tratar e preciso da tua ajuda.
- Claro que sim. Vou aproveitar que ela está a dormir e vou aí ter.
- Óptimo. Fico à tua espera então.
- Eu não me demoro. Xau!
- Ah Bia, só mais uma coisa. - disse rapidamente.
- Diz...
- O David 'tá a mandar-te beijinhos. - disse a rir-se.
- Beijinhos, Rúben! - disse a despachá-lo e desliguei.
Fui rapidamente mudar de roupa, agarrei na minha mala e saí do quarto. Quando passei pela sala, desliguei a televisão e saí de casa cuidadosamente para não fazer barulho, pois se a Daniela acordasse ia querer saber onde eu ia e eu não lhe sei mentir. Fechei a porta e o David veio-me à minha cabeça: Será que o David ia lá estar? Tentei não pensar nisso, entrei no meu carro e conduzi até à casa do Ruben. Quando cheguei, estacionei o carro e saí. Toquei à campainha, e ouvi uma voz que era-me bastante familiar a gritar "eu vou". Não demorou muito até me abrirem a porta. Fiquei admirada quando vi à minha frente o David e ele estava mais lindo que o habitual, com aqueles caracóis caindo-lhe ligeiramente pela face.
- Oi. - cumprimentou-me com um leve sorriso.
- Olá David. - cumprimentei-lhe também.
- Tudo bom com você? - perguntou-me e ao mesmo tempo fez-me sinal para que eu entrasse.
- Sim e contigo? - respondi enquanto entrava dentro da casa do Ruben, e o David fechou a porta.
- Também... - respondeu-me, e o Ruben apareceu vindo da cozinha.
- Bia! - disse alegramente.
- Rúben! - disse no mesmo tom e o David riu-se.
- Há quanto tempo... - disse como se não me visse há uma eternidade.
- Sim, Ruben, desde ontem. - disse a rir-me.
- Ah pois foi . - riu-se também.
- Cara, 'cê é um babaca mesmo. - disse o David também a rir-se.
- Ah, cala-te ó cara de cú. Pela maneira que tu falaste dela hoje, parecia que tu não a vias há semanas. - disse o Rúben com ar de gozo.
Fiquei constrangida pelo que o Rúben disse, e reparei que o David também, por isso tentei mudar logo de assunto.
- Bem e que tal pararmos de dizer parvoíces e vamos ao que interessa!
- A senhora é que manda! - assentiu o Ruben, sempre com o seu ar brincalhão.
 Dirigimo-nos todos para o sofá, sentámo-nos e começámos a conversar. Reparei que o David estava um pouco calado, pois normalmente ele fala bastante, mas tentei não ligar muito; tentei focar a minha atenção no que o Rúben dizia, mas não consegui... Eu sentia os olhos do David presos em mim. Mas passado algum tempo consegui prestar mais atenção, apesar de às vezes ainda me perder nos olhos do David.
- Precisamos de um DJ, para tratar da musica para animar o pessoal.
- Sim, mas quem? Eu não conheço nenhum DJ... - avisei-os.
- Pois, eu também não. Fazemos assim: amanhã eu vou tratar do bufett e tu e o David vão até àquela discoteca que nós fomos da outra vez, e pedem lá uma lista de DJ's. Eles de certeza que vos irão dar e depois escolhem o que acharem melhor. - ordenou o Rúben com um sorriso matreiro no rosto.
Percebi que o Rúben só disse aquilo para que eu ficasse com o David, e eu estava com vontade de o esganar. Mas até nem era mau tratar disso com o David.
- Por mim, tudo bem. - disse ainda com uma pequena dúvida a pairar na minha cabeça, mas não a deixei transparecer.
- Por mim também. A gente pode ir lá a que horas? - perguntou olhando para mim.
- Pois... Amanhã é o meu primeiro dia de faculdade, por isso só estou despachada ao final da tarde.
- Eu também vou ter treino. Posso te pegar em casa às 19:00 horas? - perguntou receoso.
- Sim, podes. - disse timidamente e o David sorriu.
- Espero que amanhã se portem com juízo, meninos. - disse o Rúben a gozar e o David deu-lhe uma leve chapada na cabeça e eu ri-me - Olha aí, caracoleta de um raio ! - reclamou.
Continuámos a falar e a tratar de mais alguns pormenores. Reparei que o David já estava mais alegre. Depois de algum tempo a falar, vi que estava a ficar tarde e então decidi ir embora. O David disse que também ia pois também já estava na hora dele. Despedimo-nos do Rúben e saímos os dois juntos da casa dele. Fizemos um curto caminho até ao meu carro em silêncio. Quando chegámos, o David acabou por quebrar o silêncio.
- Amanhã não esquece. Vou te buscar às sete.
- Eu não me esqueço. - sorri.
- Então, até amanhã. - despediu-se e deu-me um leve beijo no lado direito do meu rosto, o que me fez estremecer.
- Até amanhã David. - disse ainda um pouco atordoada.
Ele sorriu e virou-se e dirigiu-se até ao seu carro que estava um pouco mais afastado do meu. Entrei no meu e dirigi-me para casa, com o David sempre na minha cabeça.
- Como ele é lindo... - disse num sussurro e suspirei.
Quando cheguei em casa, a Daniela já estava acordada e queria saber onde eu fui. Fiquei sem saber o que dizer, mas acabei dizendo que tinha ido até ao centro comecial ver lojas, e antes que ela me fizesse mais perguntas fui para o meu quarto tomar banho.
Tomei um banho rápido, vesti o pijama e fiquei no meu quarto a pensar em tudo o que tinha acontecido na minha vida nos últimos tempos. Não conseguia mesmo parar de pensar no David. Passado algum tempo, a Daniela foi ao meu quarto chamar-me pois já era hora do jantar e ela tinha-o preparado. Comemos entre muita animação e, felizmente, a Daniela não falou mais no assunto de eu ter saído sem lhe dizer nada. De seguida ainda ficámos na sala a conversar, eu estava bastante ansiosa para o meu primeiro dia de aulas na faculdade. Depois de muita conversa fui-me deitar. Algo me dizia que o dia de amanhã iria ser mais longo do que eu imaginava... ou então não.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Capitulo 16 - Você é complicada porque você se complica !

Entrámos no carro e eu logo comecei a falar enquanto a Daniela ligava o carro.
- Olha que cena foi aquela lá nos camarotes? Porquê que saís-te e deixaste-me lá com o David?
- Eu não tive nada a ver com isso... Chamaram-me, queres o que?! - disse e soltou uma gargalhada.
- Ó, tu percebeste porquê que eles te chamaram! - afirmei com um ar chateado.
- Epá, não faças filmes. Foi por uma boa causa... Tu e o David precisam de falar.
- Daniela não temos nada que falar, foi só um beijo mais nada... - afirmei tentando me convencer.
- Vocês estão a ficar apanhadinhos um pelo o outro, Bia. Já viste bem como o David olha para ti? - perguntou tirando os olhos da estrada, encarando-me.
- Olha para a estrada! - ordenei-lhe e ela assim o fez soltando uma leve gargalhada - E nós não estamos a ficar apanhadinhos... Nós somos só amigos!
- Os amigos não se beijam. - afirmou sorrindo.
- Epá, aquilo foi só um beijo... Foi só uma coisa de momento, e não volta a acontecer! - disse um pouco cabisbaixa.
- Ai não?! Então vamos ver se não!
- Não vai voltar a acontecer mesmo! E se tu fazes mais alguma coisa para eu e o David ficarmos sozinhos ou para nós conversarmos... Ou se mandas mais alguma das tuas boquinhas, eu chateio-me a sério contigo ! - ameacei-a convicta.
- Sim, sim chefe! - cedeu rindo-se.
Continuámos o resto do caminho em silêncio até chegarmos ao restaurante. Chegámos praticamente todos ao mesmo tempo. A Daniela estacionou o carro ao lado do carro do Rúben, e saímos imediatamente do veiculo. Fomos ter com o resto do pessoal, entrámos no restaurante "Recato da Bahia" e dirigimo-nos para a mesa reservada e sentámo-nos todos. Eu fiquei entre a Andreia e a Daniela, de frente para o David. Não demorou muito até um empregado vir nos atender e fizemos os nossos pedidos. O empregado retirou-se, e enquanto esperávamos pelos nossos pedidos, conversámos animadamente sobre o jogo e sobre o Benfica. Eu e o David trocámos vários olhares intensos que chegavam a deixar-me sem jeito. Entretanto o empregado chegou, e nós rapidamente começámos a comer, mas sempre entre muitas brincadeiras e conversas.

***

O serão estava a ser muito agradável. Havia bastantes conversas paralelas, os homens normalmente estavam a falar de futebol e as mulheres a falar de moda. E entre tanta conversa eu e o David continuávamos a olhar um para o outro. Eu não conseguia deixar de admirá-lo. Aqueles caracóis rebeldes caindo-lhe pela face e aquele sorriso de menino, dava-lhe um ar tão irresistível, que era impossível não reparar nele. O jantar decorria alegremente, até que o Luisão teve a brilhante ideia de irem tocar pagode, e pelo que eu percebi os donos não se importaram pois adoravam e o que mais se encontrava ali eram brasileiros. Então, entre muita animação começaram a tocar, e enquanto uns tocavam, outros dançavam animadamente e outros conversavam. Eu estava sentada numa das mesas da esplanada, a falar com a Andreia e com a Brenda que me estavam a contar brincadeiras e traquinices dos seus filhos, até que entretanto chegou o David, e os nossos olhares trocaram-se intensamente e elas aperceberam-se.
- Bem eu vou lá para dentro que aquilo está bastante animado. - informou a Andreia.
- Eu vou com você. - disse a Brenda e levantaram-se rapidamente e saíram, deixando-me sozinha com o David.
- Oi. - cumprimentou o David um pouco envergonhado.
- Olá. -  sorri levemente.
- Posso sentar? - perguntou apontando para a cadeira.
- Claro, estás a vontade. - disse sorrindo e o David retribuiu, e sentou-se.
- Então cê gostou do jogo?
- Gostei muito! Vocês estiveram muito bem, e já agora parabéns pela vitória!
- Obrigado. - agradeceu com um grande sorriso - Cê quer ir dançar?
- Eu? Dançar? Esquece lá isso. - ri-me ligeiramente - Mas posso ir e fico a ver-te a dançar.
- Ah, vem dançar! Eu te ensino!
- Não, é melhor não. - retorqui e ri-me ligeiramente lembrando-me do desastre que sou a dançar.
- Ah, 'tá bom então. - disse com um ar conformista, soltando um leve sorriso.
Sorri ligeiramente e nesse exacto momento os olhos do David prenderam-se nos meus. Consegui perceber que ele me queria dizer alguma coisa mas não sabia como. Estava na esperança que ele não falasse sobre o nosso beijo, porque eu não sabia bem o que ia dizer e não sabia bem o que aquele beijo tinha significado. Só tinha a certeza que eu não podia ter nada sério com o David, pois, apesar dele ser um jogador de fotebol, não queria ter a minha vida estampada numa revista como conquista do mês dele, e também eu não acredito muito em relações com jogadores de futebol, apesar de achar o David uma pessoa fantástica. Mas a qualquer momento ele pode ser vendido para outro clube e depois íamos acabar por nos separar, e também eu não sou de me apaixonar. Isso comigo não acontece, e se as coisas ficarem sérias eu iria acabar por magoar o David e ao magoá-lo, ia-me magoar também. Mas porquê que eu estou a pensar nisso?! O David nunca se vai interessar por mim, para ele deve ter sido só um beijo, eu é que estou a pôr problemas onde não existem...
E assim permanecemos num silêncio que apenas se fazia ouvir a música de fundo vinda de dentro do restaurante. Estávamos completamente perdidos nos olhos um do outro, não sei dizer ao certo quanto tempo, mas sei que foi tempo suficiente para se tornar um pouco constrangedor.
- Bia, a gente precisa conversar ... - disse finalmente quebrando o silêncio.
- Sobre o quê? - perguntei fazendo-me um pouco de desentendida.

- Não temos que conversar sobre isso, foi só um beijo...
- Bia me desculpa... Eu só te beijei porque pensei que você também queria... - disse a arrastar um pouco a voz, um pouco desiludido.
- David, vamos esquecer isso é melhor. - pedi fixando os olhos no chão.
- Esquecer porquê? A gente não se pode conhecer melhor? - perguntou um pouco receoso.
- David, eu sou complicada... - confessei soltando um suspiro.
- Você é complicada porque você se complica ! - afirmou calmamente e agarrou-me na mão - Olha p'ra mim... - pediu com uma voz doce e eu assim o fiz - Eu não quero estragar a nossa amizade, mas eu quero te conhecer melhor.
- Mas eu ... - fui interrompida por alguém a entrar na esplanada.
- Bia, preciso falar con... - calou-se ao perceber que estávamos a meio de uma conversa - Desculpem, eu falo contigo depois. - disse um pouco atrapalhado.
- Não, Ruben. - disse e soltei a minha mão da do David - Podes falar... Passa-se alguma coisa? - perguntei levantando-me.
- A sério, eu falo contigo depois...
- Fala agora Ruben. - insisti pois não queria continuar aquela conversa com o David, pois não sabia o que lhe dizer.
- Eu vou deixar vocês falarem ... - disse o David levantando-se e dirigindo-se à porta.
Antes que eu o Ruben pudéssemos dizer alguma coisa e antes do David sair, a Daniela entrou muito animada na esplanda.
- David! Estava mesmo à tua procura! Ensina-me a sambar ! - pediu um pouco eufórica.
Ela nem esperou uma resposta do David e puxou-o para dentro do restaurante. Eles sairam muito rapidamente, e a Daniela estava bastante animada. Mas com a mesmo rapidez que sairam a Daniela voltou.
- Vocês não vêm?! Aquilo está fantástico! - afirmou soltando uma grande gargalhada e voltou a entrar para dentro do restaurante.
- Ok... o que se passa com ela? - perguntei confusa.
- Ela já bebeu um bocadinho a mais do que devia. - disse o Ruben a rir-se.
- Ah ok... Isso explica aquela euforia toda... - ri-me também. - Mas o quê que querias falar comigo? - acabei por perguntar.
- Sabes que a Daniela faz anos daqui a uma semana n'é? - disse com um grande sorriso e nem esperou pela minha resposta, pois era óbvia. - Então estava a pensar fazer-lhe uma festa surpresa.
- Acho uma óptima ideia. - concordei - Ela disse-me que não ia fazer festa porque estava sem paciência... Por isso uma festa surpresa é uma excelente ideia!
- Ela também me disse isso, por isso é que eu tive essa ideia. Mas olha vou precisar da tua ajuda!
- Claro, em tudo o que tu precisares.
- Então é assim: eu preciso que fales  com os amigos dela da faculdade e eu falo com o pessoal do plantel. - disse calmamente.
- Pois... Isso vai ser complicado, porque eu não conheço os amigos dela da faculdade. - informei e comecei a pensar numa maneira de falar com os amigos dela, e rapidamente veio-me à cabeça o Lucas, pois ele conhecia os amigos dela de certeza - Ah, mas já sei como isso se resolve. Deixa comigo! - assegurei-lhe sorrindo.
- Óptimo então ! Eu falo com o pessoal do plantel ... - disse sorridente.
- Ok, e onde vai ser a festa, já pensas-te nisso?.
- Já... E vai ser na minha casa... O que achas? - perguntou um pouco receoso.
- Acho fantástico!
- Ainda bem! Olha eu peço o teu número ao David e depois combinamos alguma coisa para falarmos melhor, é porque aqui não dá muito jeito e tenho alguns pormenores para tratar e preciso da tua ajuda! E só temos uma semana!
- Ok, então depois liga-me e combinamos... - disse e a Daniela entrou novamente na esplanada.
- Pessoal, andem! O David já me ensinou a sambar, eu sou mesmo boa! - disse alegremente e voltou a sair e eu e o Rúben rimo-nos das figuras que a Daniela estava a fazer.
- É melhor nós irmos! - disse ainda a rir-me.
- Sim, é melhor! E Bia, desculpa!
- Pelo quê? - perguntei confusa.
- Por ter interrompido a tua conversa com o David...
- Não interrompeste nada. - disse sem o encarar.
- Interrompi sim... Vocês estão mesmo a gostar um do outro... - disse com um sorriso ligeiramente matreiro no rosto.
- Ruben, cala-te! - disse um pouco chateada.
Entrei para dentro do restaurante e o Ruben seguiu logo atrás de mim. Lá dentro estava bastante animado. Algumas pessoas já estavam um pouco "alegres" mas a Daniela era a que mais se destacava. Aquela animação continuou noite dentro, mas eu não estava por dentro dela de todo e reparei que o David também não. Nós trocámos alguns olhares, mas não falámos durante o resto da noite. Senti que ele ficou um pouco chateado com a nossa conversa tendo em conta que eu "fugi" dela.
O tempo foi passando e chegou finalmente a hora de ir embora, mas a Daniela não queria ir, dizia que queria se "divertir" mais, mas depois de muita insistência consegui convencê-la e o Ruben ajudou-me a levá-la até ao carro. Despedi-me dele e do resto do pessoal e troquei um olhar intenso com o David, e de seguida entrei para o carro. Fui a conduzir, já que a Daniela não estava em condições de o fazer. Durante o caminho ela foi a resmungar mas eu nem lhe liguei, pois estava perdida em pensamentos. Aquela conversa com o David deixou-me um pouco "perturbada" e ainda mais confusa do que já estava. Chegámos finalmente em casa, e um pouco a custo levei a Daniela para o seu quarto, e esta atirou-se logo para a cama e acabou por adormecer rapidamente. Logo de seguida fui para o meu quarto, mudei de roupa e fui até à casa de banho, onde tirei a maquilhagem e lavei os dentes. Deitei-me na minha cama, e fiquei algum tempo a olhar para o tecto, e imediatamente a imagem do David veio-me novamente à cabeça. Aquilo já se estava a tornar um hábito. Lembrei-me do nosso jantar, do dia em que eu fui ver o treino dele... Ele é sempre tão querido... Lembrei-me do sorriso de menino dele, que desde que o conheci não consigo tirar da cabeça, lembrei-me do nosso beijo... E que beijo! Esse beijo tem me deixado completamente atormentada, o David tem me deixado completamente atormentada! Eu querendo ou não tenho que admitir que ele mexe comigo e que aquele beijo não me foi indiferente, mas não pode haver nada entre nós... Nós somos de mundos completamente diferentes, e nunca iria resultar! E entre muitos pensamentos, o cansaço acabou por apoderar-se de mim e eu acabei por adormecer.

sábado, 4 de junho de 2011

Capitulo 15 - Cantinho do caracol

Acordei e olhei para o visor do meu telemóvel, que estava em cima da minha mesa de cabeceira, e foquei no pequeno relógio que se encontrava no canto superior da tela que marcava as 9h07. Ainda era muito cedo para estar acordada a essa hora à um sábado, mas não tinha sono. Por isso limitei-me a ficar na cama a olhar para o tecto e imediatamente a imagem do David veio-me à cabeça. Não sabia o que se estava a passar comigo... Nunca me tinha sentido assim, sentia-me confusa mas incrivelmente bem, sentia-me muito bem! Aquele beijo não me saia da cabeça; o David não me saia da cabeça! Aquele sorriso de menino, aqueles olhos lindos e aqueles caracóis super fofinhos, eram imagens que estava bem presentes na minha mente, e davam indícios de não saírem de lá tão cedo. Um sorriso enorme aflorou-me no rosto, por causa dos meus pensamentos, mas rapidamente esse sorriso foi substituído por uma expressão de dúvida. Lembrei-me do jogo, lembrei-me que hoje ia estar com o David e isso não era mau, aliás era muito bom, mas não sabia como iria ser estar com ele depois do beijo; não sabia como iria reagir, como ele iria reagir... Não sabia se o David teria gostado tanto do beijo como eu, não sabia o que o beijo significou para ele... Um arrepio percorreu-me o corpo juntamente com um sentimento de ansiedade. Fiquei mais alguns estantes completamente perdida em pensamentos receosos e confusos, até que a Daniela entrou disparada pelo meu quarto.
- Miúda, vamos tomar o pequeno-almoço fora? - perguntou-me alegremente, sentando-se na beira da minha cama e rapidamente acordei do transe em que me encontrava.
- Já não se bate à porta? - perguntei chateada, mas foi só para me meter com ela pois tínhamos liberdade para fazer isso uma com a outra, afinal éramos amigas há muito tempo.
- Desculpa, desculpa. Mas vamos ou não? - insistiu com um grande sorriso, estava visivelmente bem disposta.
- Sim pode ser. Mas olha diz-me lá uma coisa, essa boa disposição toda é porque vais ver o teu Rubenzinho? - perguntei só para a provocar.
- Não começes a dizer parvoíces e vai lá te arranjar que eu vou fazer o mesmo, e rápido que eu tenho fome! - disse rapidamente a tentar escapar ao assunto, enquanto se levantava da cama e saia do quarto sem me dar a oportunidade de dizer nada.
- Isso foge, mas vais acabar por admitir que estás completamente apaixonada por ele! - gritei para ela me ouvir.
Ela não me respondeu e eu rapidamente levantei-me da cama e depois arrumei-a. Fui até à casa de banho, tomei um banho rápido e lavei os dentes. De seguida vesti umas calças de ganga preta e uma camisola branca com umas letras também pretas, e calcei umas sabrinas brancas e dei um jeitinho ao cabelo, e logo de seguida a Daniela entrou novamente pelo meu quarto apressada.
- Fogo miúda! Ainda demoras?! 'Tou a morrer de fome!
- Ei tem calma! Já estou pronta, deixa-me só pegar na minha mala. - disse enquanto ia buscar a minha mala que estava em cima da cama.
- Desculpa, sabes como eu sou faminta... - riu-se ligeiramente.
- É por isso que eu acho que tu e o Ruben são feitos um para o outro, vocês os dois estão sempre com fome!
- Cala-te e vamos! - disse fingindo-se amuada.
Eu ri-me descaradamente e de seguida saímos de casa. Fomos no carro da Daniela até um café que ficava relativamente perto da nossa casa - 10 minutos de carro. Quando chegámos reparei no nome do café: "cantinho do caracol" e o David veio-me logo à cabeça. Ri-me ligeiramente com aquela "coincidência".
- Do que te estás a rir? - perguntou-me curiosa.
- Nada. - respondi recompondo-me.
- É do cantinho do caracol? - perguntou e riu-se - Eu trouxe-te aqui exactamente por isso.
- Não sejas parva! Não eras tu que estavas com fome?! Então vamos entrar e comer! - entrei para dentro do café, enquanto a Daniela continuava-se a rir.
A Daniela veio logo atrás de mim e sentámo-nos numa das mesas que estavam vagas e logo de seguida uma senhora que aparentava ter uns 55 anos, muito simpática, veio-nos atender. Fizemos os nossos pedidos e a senhora não demorou muito a trazê-los e imediatamente começámos a comer.
- Estás nervosa? - perguntou-me, trincando o seu pão de leite misto de seguida.
- Do que estás a falar? - questionei confusa dando um gole no meu compal de manga.
- Do jogo... Se estás nervosa para jogo? - percebi que ela não estava a falar do jogo mas sim do David, mas eu continuei a fazer-me de desentendida.
- Não, eu não costumo ficar nervosa por causa de futebol, deixo isso contigo! - disse descontraidamente.
- Oh não estou a falar do jogo, mas sim do David. Vocês têm que falar Bia! - aconselhou-me com uma cara séria.
- Daniela eu não sei... Foi só um beijo, não sei o que significou para o David. - disse com uma voz um pouco triste.
- Eu sinceramente acho que vocês estão a começar a gostar um do outro, e se eu bem conheço o David ele não te ia beijar só por beijar, por isso acho mesmo que deviam falar. - disse com um leve sorriso.
- Oh Dani, eu agora não quero pensar nisso, ainda falta muito para o jogo por isso logo se vê.
- Tu é que sabes ...
Continuámos a comer e quando terminámos, pagámos e voltámos para casa. Ficámos o resto da manhã a ver televisão e a conversar animadamente. Depois fizemos o almoço, comemos e voltámos para a sala e vimos um filme, enquanto a Daniela falava do Ruben e do David e todos os momentos que já teve com eles e com alguns membros do quartel do Benfica, e também falou de como ela ficou tão amiga do Ruben. Quando ela pronunciava o nome dele, os olhinhos dela brilhavam. Eu não tinha a mais pequena dúvida de que ela estava apaixonada por ele e também achava que ele estava apaixonado por ela, mas eles são demasiado cabeças-duras para o admitir. E assim passámos a tarde entre muita conversa, até que fomos nos arranjar para o jogo. Eu fui para o meu quarto e a Daniela foi para o dela. Não sabia bem o que vestir, por isso decidi ir tomar um duche primeiro e depois eu via o que haveria de vestir. Tomei um duche rápido, enrolei-me na toalha e abri o armário à procura de alguma roupa que fosse do meu agrado. Depois de muito tempo a olhar para as minhas roupas, acabei por escolher uma coisa simples mas bonita. Sequei o cabelo e estiquei-o de modo a ficar um pouco ondulado, maquilhei-me ligeiramente e passei as coisas da minha mala para outra mala que ficava melhor com a minha roupa. Guardei tudo na mala, e quando estava a dar uma última olhadela ao espelho, ouvi alguém a bater à porta. Achei estranho pois só podia ser a Daniela e ela não costuma bater a porta.
- Entra! - disse rapidamente.
- Hello gata. - a Daniela entrou muito animada.
- Eláá... Aprendeste bons modos foi? Agora já bates às portas! Muito bem Daniela, agora deixaste-me orgulhosa. - impliquei com ela.
- Não te habitues, foi só para gozar! Mas vá, já estás pronta? - perguntou-me com um grande sorriso.
- Tu és mesmo parva! Sim, estou pronta. - disse agarrando na minha mala.
- Estou a ver que sim... Isso é tudo para o David? - perguntou olhando-me de cima a baixo.
- Epá, vamos? -  saí do quarto e ela veio atrás de mim.
- Vamos. - disse a sorrir - Eu conduzo! - afirmou tirando as chaves do seu carro da mala.
- Não, eu conduzo, está mesmo a apetecer-me! - retorqui com um leve sorriso.
- Eu conduzo e se te portares bem deixo-te trazer o meu bolinhas na volta!
- Fogo és mesmo chata! Logo hoje que me está a apetecer conduzir, não me deixas. - fiz beicinho, tentando convencê-la.
- Oh não amues, riqueza! Não ficas nada sexy assim! - gozou comigo.
- Cala a boca e vamos. - abri a porta e saí de casa.
Ela riu-se e saiu atrás de mim fechando a porta. Dirigimo-nos até ao carro dela, entrámos e fomos directas para o estádio da luz. Chegámos e ainda faltava algum tempo para o jogo começar. Saímos do carro e dirigimos-nos para os camarotes, e antes de entrarmos lá deu-me um frio na barriga e eu parei a minha caminhada, e a Daniela também, olhando para mim um pouco intrigada.
- Está tudo bem?
- E se ele tiver lá, Dani? - perguntei com um certo nervosismo na voz.
- Falas com ele. - respondeu fazendo um grande sorriso - Agora respira fundo e vamos. - puxou-me levemente sorrindo.
Entrámos nos camarotes e o meu coração gelou, e a primeira pessoa que eu avistei foi o David. Ele estava a conversar com o Ruben, com o Luisão e com o Fábio. Naquele mesmo instante, o Ruben reparou na nossa chegada e o David também, e trocámos um olhar intenso que me fez tremer. O Fábio e o Luisão sorriram e acenaram-nos com a mão, e eu desviei o olhar do David e acenei-lhes também, e a Daniela fez o mesmo. Enquanto isso o Ruben e o David dirigiam-se até nós.
- Olá meninas! - cumprimentou-nos o Ruben muito alegre.
- Olá. - respondemos num uníssono perfeito.
- Vocês estão lindas! - elogiou-nos o Ruben e nesse momento o David olhou para mim e sorriu.
- Oi. - disse num tom de voz baixo e receoso, diringido-se a mim.
- Olá. - cumprimentei-o fazendo um leve sorriso tímido.
Eu e o David olhámo-nos nos olhos e ficámos assim durante alguns segundos, até que a Daniela interrompeu-nos.
- Olá para ti também David ! - disse num tom irónico.
- Oi Dani! Tudo bem com você? - disse em tom de brincadeira como se estivesse a tentar desculpar-se por tê-la ignorado.
- Sim e contigo? - disse entrando na brincadeira dele.
- Também. Sabe o Ruben tava com saudades suas! - disse e o Ruben corou ligeiramente.
- Pois e vejo que tu estavas com saudades da Bia, desde que ela chegou não tiraste os olhos dela ! -  afirmou com um grande sorriso.
Senti-me corar ligeiramente, mas antes que o David pudesse dizer alguma coisa, o Fábio, que agora já estava agarrado a Andreia e a Brenda que estava com o Luisão, interromperam.
- Ruben anda cá! - gritou o Fábio.
- E cê também Daniela! - pediu a Brenda.
O Luisão e a Andreia tentaram rir discretamente mas não conseguiram. A Daniela e o Ruben trocaram um olhar intenso e eu percebi que eles só os chamaram para deixar-nos sozinhos.
- Nós vamos lá. - avisou o Ruben.
A Daniela sorriu e eles foram de encontro ao Fábio, à Andreia, ao Luisão e à Brenda. Eu e o David ficámos sozinhos, e nesse momento eu olhei para ele, e ele estava a olhar para mim, o que me deixou sem jeito. Ficámos escassos segundos a olhar-nos nos olhos até que eu resolvi quebrar o silêncio.
- Eles são mesmo parvos! - disse soltando um leve sorriso.
- Pois são! - concordou calmamente.
- Estás nervoso para o jogo?
- Só um pouquinho, dá sempre aquele nervosismo mas quando entramos no campo passa. - respondeu fixando-se nos meus olhos.
- Pois é. - disse também olhando-o nos olhos.
Ficámos algum tempo assim, a olhar nos olhos um do outro, em silêncio e a tentar decifrar a expressão um do outro que se encontravam indecifráveis naquele momento. Aquele silêncio estava-se a tornar desgastante até que ele o quebrou.
- Bia, a gente precis... - Mas antes que ele pudesse acabar a frase o Ruben interrompeu-o.
- David, o mister 'tá a chamar. Temos que ir meu.
- 'Tou a ir manz. - desviou o olhar para ele e olhou para mim novamente - Eu tenho que ir... - avisou-me um pouco desiludido.
- Sim, vai lá. - Foi a única coisa que eu consegui dizer.
O David virou-me costas e eu não resisti em chamá-lo.
- David...
- Oi?
- Boa sorte para o jogo! - desejei-lhe dando-lhe um leve beijo no rosto.
- Obrigado. - disse com um lindo sorriso de menino nos lábios ao qual eu retribui-lhe.
Depois disso o David virou-me costas e foi ter com o resto dos jogadores que depois foram todos para dentro dos balneários, e entretanto a Helena aproximou-se de mim.
- Hola guapa! - cumprimentou-me com um grande sorriso.
- Hola, te ves muy hermosa! - elogiei-a com um grande sorriso.
Eu safava-me muito bem no espanhol, pois já fui muitas vezes com os meus pais passar férias em Espanha.
- Gracias! Hay algo entre usted y David? Me di cuenta de cómo usted fuera a mirar el uno al otro. - constatou com um belo sorriso.
- No, no. Sólo somos amigos. - disse um pouco atrapalhada.
- Creo que le gustas usted! - afirmou convicta.
- Sólo somos amigos. - afirmei mais uma vez - Cuando te casaste con el javi? - perguntei em tom de brincadeira só para mudar de assunto, pois não queria falar muito sobre o David.
- No lo sé. Espero que sea pronto. - respondeu também em tom de brincadeira.
Ficámos mais alguns minutos a conversar. A Helena era portadora de um simpatia enorme, e por isso nós estávamos a tornar muito amigas.  Entretanto os jogadores entraram em campo, nesse momento o meu olhar e o do David cruzaram-se, e ele sorriu genuinamente, e eu retribui-lhe. Os jogadores fizeram o aquecimento e o jogo começou. Eu só me conseguia concentrar no David, que por acaso estava a fazer um excelente jogo. O jogo estava a ser renhido, mas aos 25 minutos do segundo tempo, o Javi Garcia marca um golo, ao qual dedica a Helena que fica completamente babada. E esse foi o resultado do jogo até ao fim. Depois terminado, fomos para sala de espera dos jogadores e estes demoram um eternidade para sair de lá. Foram saindo uns atrás dos outros, até que saiu o David acompanhado por outros jogadores. Eles saíram muito animados e a comemorar a vitória, mas quando os olhos do David cruzaram-se com os meus, esses prenderam-se a mim e ele faz-me um sorriso que me deixou completamente derretida. Retribui-lhe o sorriso e juntaram-se todos os que iam ao jantar de comemoração. E depois de os felicitar pelo jogo, combinámos tudo, decidimos ir cada um nos seus respectivos carros e encontrávamos todos no restaurante. Depois disso dirigimo-nos para o estacionamento, todos muito animados e falar bastante, mas eu e o David íamos em silêncio, apenas trocando alguns olhares. Chegámos e cada um foi para o seu carro e eu fui com a Daniela, e ainda bem porque eu precisava de ter uma conversinha com ela...
Eu estava nervosa, sem saber o que iria correr naquele jantar...